"Marte pode ser naturalmente cruel, tanto quanto a natureza é cruel, mas não é malvado. Os animais lutam até a morte e se caçam mutuamente, vivendo sob a impiedosa lei da sobrevivência, mas não são sádicos de nascença. Não creio que a crueldade gratuita seja um atributo inerente a Marte”
Liz Greene, em Os Planetas Interiores.
(Imagem - Ares da Mitologia Grega - O Senhor da Guerra)
Não importa quantas vezes eu leia este livro, tantas vezes o acho muito bom, assim como Os Luminares, também de Greene e Sasportas. Mas, Marte é o arquétipo sanguinário, e como não fica claro para mim a diferença entre crueldade e maldade, nem recorrendo ao dicionário, penso que ele pode se manifestar nas duas palavras sem esforço. Sadismo é outra coisa. Animais realmente não são sádicos, ou seja, quando se enfrentam o fazem por razões que nada tem a ver com o prazer do exercício do mal que causa dor e sofrimento no outro, fato infelizmente comum a espécie humana, esta sim, capaz de se regozijar com a covardia.
A essência de Marte está presente em todas as cenas de violência, sejam estas pelos motivos que forem. Pode ser entre os bichos que viram o almoço do rei da floresta, na foto de um elefante que virou o troféu de um caçador rei de algum povo, entre povos e seus exércitos, meros indivíduos e, claro, na indústria do entretenimento; nas agressões, no derrame de sangue e uso da força está sempre Marte, seu primitivismo, animalidade e a brutalidade. A César o que é de César.
Importante elemento da psique, a energia associada ao planeta vermelho é fundamental para nossa sobrevivência e perpetuação, e não fossem por suas enérgicas influências não conheceríamos as palavras atitude e providência durante a existência. Marte é sempre um fator de ataque, mas não necessariamente bestial, e quando diante dos estragos que ele por vezes proporciona, não demonstra culpa. Para isso seria necessário uma certa dose de razão e não há “inteligência” em Marte. Só desejo e ação.
Marte é o melhor comandado, aquele que não está no fronte para pensar, mas para cumprir as ordens, defender os interesses e dar orgulho a seu comandante, o Sol, este sim, o verdadeiro responsável pelas ações ou atrocidades executadas por Marte. O Sol é a consciência, a central de comando, o Ego, propósito, e se manifesta com poderes de mando tanto nos piores tiranos rastejantes como nos mais generosos e amorosos indivíduos. Quanto mais fraca e pouco desenvolvida a consciência, mais altas são as chances de sermos dirigidos para ou pelo primitivo, de nos tornarmos acéfalos passionais ou vivermos sob o comando de nosso capanga interior. De fato e no mínimo, é bom que exista uma relação hierárquica saudável e harmoniosa entre este dois arquétipos, Sol e Marte, desta forma ganha o indivíduo e ganha sua sociedade.
Enquanto eu termino este texto, milhares de animais no planeta foram caçados e mortos por seus predadores. Houve dor, sangue, covardia, pânico e violência. Mas, alguém de sã consciência deveria perturbar-se e entristecer-se por causa disso? Claro que não, é natural, sem maldade, nada podemos fazer e nem devemos. Porém, estou convencido que um mundo melhor só será possível, entre outras coisas, quando a maioria dos seres humanos for profundamente perturbada e acometida de solidária tristeza diante de fatos bestiais cometidos sob a liderança dos grupos de “Marte sem cabeça” pelo mundo a fora, tais como os que estão ocorrendo em Houla, Síria. Lá também houve dor, sangue, covardia, pânico e violência, mas isso não é natural, é o mal e certamente algo pode e deve ser feito por eles e todos nós.
Autor: Eduardo Henrique Vieira Mello é diretor da Escola Netuhria Astrologia e Pensamento.